Temos mesmo que caber?



Essa carta deu o que falar. Homens e mulheres foram a loucura. É uma crítica. Uma provocação. As pessoas se prenderam à imagem e desconsideraram a discussão que eu levantava na carta. Pra você ver como olhar a mulher num papel de "superioridade" incomoda. Mas o lance é que a imagem é invertida o tempo inteiro ao longo da história e não nos incomodamos muito. Muito louco, né?


Bota a música é vai na fé! Rá!



"Essa imagem é muito simbólica pra mim. Quem me segue sabe que me separei depois de 10 anos num relacionamento. Namorei, noivei, casei. Tudo nos conformes. Antes disso eu já havia namorado por duas vezes. Ou seja, três relacionamentos. Alguns beijinhos na boca por aí. Desde os 15 anos namorando e me relacionando. Estou solteira há 05 meses. E, ou, não é fácil. Mas também não é o fim do mundo. Tenho tido uma oportunidade incrivel de me conhecer ainda mais. De reconhecer meus desafios existenciais e minhas potencialidades. E são muitas, viu? A minha história de vida (a de todo mundo, na verdade) é de muita luta. Primeiro, sou mulher, vim da periferia, família não convencional e já fui bem pobre (de grana). Corri a vida inteira. Estudei pra cacete nos ônibus da vida, nas madrugadas. Deixei de curtir muitos rolês na juventude porque não tinha grana. Me senti tão pequena por tanto tempo. Porque existe preconceito demais, né? E, talvez, por não reconhecer a guerreira que sou e somado à minha história de vida onde sempre quis agradar a todos, acabei aceitando muito pouco dos relacionamentos. Vejo, que, de certo modo, aceitei ser "menos eu" pra caber. Tudo bem, há sempre nos relacionamentos a tal da flexibilidade. As duas ou mais partes devem ceder pra coisa poder fluir. Mas, esse ceder vai até que ponto?

Aí entra uma reflexão que tenho tido sobre o feminino e masculino nessa sociedade que tem seu longo histórico patriarcal, machista e misógino. 

Somos colocadas e, portanto, muitas vezes nos colocamos no lugar de mães. De cuidadoras. É óbvio que cuidamos uns dos outros. Mas, em geral, mulheres cuidam mais. Mulheres acompanham seus companheiros em quase tudo. A recíproca não é verdadeira na maioria das vezes. Mulheres assumem a maior carga mental na rotina e organização do lar. Mulheres cuidam mais dos filhos. Mulheres ainda trabalham dentro e fora de casa. Mulheres ainda tem muito sentimento de culpa por não atingirem a perfeição. Nesse meu curto período em que estou só e tenho me permitido diversas vivências e trocas, quando converso com a mulherada, seja mãe de adolescente que acompanho, amigas de todas as idades, raças, credos, classe social, enfim. A gente quer ser perfeita. Ou, pelo menos tenta. Primeiro, quero dizer que acho isso lindo. Nossa capacidade e nosso desejo de querer ser melhor, sempre. Mas isso muitas vezes nos adoece. Nos oprime. Reconheçamos nossa grandeza. Nossa luta diária pra sermos quem somos. Estamos em todos os lugares. Em casa, no comércio, na universidade, no serviço público, na iniciativa privada. Cuidamos dos outros o tempo todo. Vamos cuidar de nós também. Não nos abandonemos. Sejamos mães apenas dos nossos filhos. E tenhamos consciência ao criá-los, sejam homens ou mulheres (cabem definições não binárias aqui), que somos responsáveis por nós mesmos. Que podemos e devemos contar e pedir ajuda ao outro. Mas, sempre tem um mais. Sou mãe do Gurute. Feminista. Já fico pensando em como mostrar ao meu filho que ele pode contar comigo e com o pai igualmente. Que tem coisas que faço melhor que o pai. Que tem coisa que o pai faz melhor do que eu. Que não sei mais por ser mãe. Que instinto materno é uma construção fudida pra colocar a gente nesse lugar do cuidado maior. Pois na verdade, instinto é humano. Reconheço que nós mulheres temos um diferencial gigante em relação aos homens.

Nós gestamos. Nós parimos. Nós amamentamos. Desde o momento da concepção é o nosso corpo que já deixa de ser só nosso. São nossos hormônios que ficam loucos. É a nossa pele que estica. São nossas entranhas que se abrem preles virem ao mundo. É o nosso peito que racha para poder nutri-los. Então, somos privilegiadas! Mas isso é pra ser belo e reconhecido. E não nos aprisionar. Homens, pais, podem e devem trocar fraldas. Dar banho. Levar ao pediatra (sem a gente inclusive). Medicar. Brincar. Educar. Impor limite com afeto. Passar noite em claro. Enfim... o cuidado deve ser partilhado. Mãe traz ao mundo. Pai apresenta o mundo. Mãe é simbiose. Pai é o universo fora da gente. Todo mundo é importante nessa história. Se o pai não cumpre seu papel sobre o mundo, existe um risco grande de os filhos e filhas ficarem nessa relação simbiótica além do necessário e procurarem esse lugar em seus relacionamentos. 

Então, precisamos melhorar. Mulheres precisam confiar mais. Pra isso, homens precisam ocupar suas funções com responsabilidade. Enfim. São hipóteses. E teria como incrementar nessa micro analise as mil abordagens existentes. O tal do Edipo do Freud. Enfim... eu me mantenho aqui, no meu lugar. Hoje não aceito ser menos do que sou. Cresçam homens. Reconheçam o poder de vocês também. Não pra serem algozes. Mas pra serem mais felizes e poderem partilhar genuinamente com a gente. Se solidarizem entre si. Falem de sentimentos, de fragilidade. Façam conexões verdadeiras entre si. Reconheçam suas vulnerabilidades. Suas potencialidades. E bora ser feliz!"

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