Fechamento de uma ferida


Eu olho pro que ainda me prende nessa história. Ele nunca me amou como sou. Amou uma parte. A parte frágil que podia ser facilmente controlada. A máscara que eu criei para agradá-lo e ser "cuidada". Ele amou a minha menina. Nunca a minha mulher. Ela amou a minha menina ferida. Que precisava de proteção e cuidado. Que se abandonou ao seu controle. A mulher de cabelos livres, corpo tatuado, que posa nua pra ressignificar o mapa da alma, que se importa com a própria aprovação... essa não! Essa ele nunca amou. Porque essa é uma ameaça ao seu lugar seguro de domador de vidas alheias. É preciso coragem para olhar e reconhecer as próprias feridas. Mais coragem ainda pra se lançar na vida confiante nos desígnios não concretos que pautam nossas existências reais. É sobre fé. É sobre humildade para reconhecer erros e mudar de rota quantas vezes for necessário, sabendo que se perder no caminho faz parte do processo de descobrir-se por completa, camada por camada. É sobre ser inteira, mesmo que seja preciso colar e re-colar pedaços por pedaços. Peças assim se tornam ainda mais resistentes. Foi um moço que me disse. Que provavelmente eu não teria tido a oportunidade de conhecer se tivesse me mantido presa nessa relação de dominação tão pouco saudável. Não sou e nunca fui perfeita. Mas hoje eu me sinto em mim mesma, com tudo o que sou. Livre. Imperfeita. E possivelmente real.

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