Eu pari a vida. Eu pari a morte.





Eu estava num processo forte nessa época. Fazia aula de percussão. E foi numa troca forte, genuína e empática com meu professor que acessei esse luto. Vai entender. Me baguncei emocionalmente na época. Dor é uma coisa que conecta a gente de um jeito forte. E eu fiquei mexida e acabei deixando as aulas de percussão. Sabia que podia me colocar em risco por conta da minha criança ferida carente de amor. E meu professor tava numa fase doída. Achei que era cuidadoso me ausentar. E eu tinha que pagar a Core, a grana não ia dar. Mas ainda hei de tocar alguma coisa. Não é possível.


Vamos ao texto? A música é do Tim! Se joga nessa dor, rs!


"Vem textão parte 2. Contextualizo que partilhar tanta intimidade em rede social faz parte do meu processo de auto cura. Não me perguntem porque. Simplesmente sinto que assim deve ser. Muitas pessoas tem me procurado em outros espaços e tenho tido o imenso prazer de fazer trocas genuínas e curativas. Aos que se sentem incomodados, eu sinto muito. Deixem de ler ou parem de me seguir. Por fim, antes de ir ao texto, saibam que estou muito feliz porque tenho escolhido diariamente ser feliz, o que me exige uma disciplina constante. Vale a pena. Pra ser feliz temos que sair da zona de conforto.

Pois bem. Aos 29 me tornei mãe. Continuo me tornando a cada dia. Quando Gurute estava com 1 ano e 6 meses eu engravidei. Eu queria. Como sempre, foi de primeira. Sou muito fértil... a gravidez, desta vez, começou diferente. Menos enjoos, sono normal, cansaço inicial. Com 07 semanas ouvimos o coração do bebê bater, forte, vibrante, lindo. Vimos aquela sementinha bem acoplada ao colo do meu útero. Seguimos. Com 11 semanas veio um leve sangramento. Coisa de rotina. Mas eu ja sabia que algo não estava normal. Sentia que minha barriga não crescia. Meus seios estavam diferentes. Fomos a gineco e sim, a bebê não tinha evoluído. Não tinha mais coração batendo e apenas um corpo flutuando dentro do meu utero. Muito choro. Muito choro. Decidi que o aborto seria natural. Que meu corpo iria expelir sozinho e no seu tempo aquela vida que um dia ali tinha existido. Era uma sexta-feira. Dia 09 de dezembro. Dois dias depois, contração pós contração, Igor e Miguel ja tinham ido dormir, senti como se estivesse em trabalho de parto. Lembrei do parto de Miguel. Meu corpo ja conhecia essa sensação. Rebolei, fiz agachamento. A dor intensificou. Das 20h as 3h da manhã. Fui pro chuveiro, posição de cócoras, água quente na lombar. Não sei quanto tempo ali fiquei. Ao me levantar e me enxugar, senti que o colo do útero tinha aberto e ali mesmo expeli o que restava sair. Nessa hora, Igor e Miguel acordaram. Nos despedimos daquela parte juntos e, depois, abraçados e regados ao choro, adormecemos.

Muita gente acha que se encerra ali. Mas não. O corpo estava se preparando pra uma vida. Pós aborto o corpo precisa reequilibrar hormonios. Então, é puerpério sem bêbe. É puerpério sem a ocitocina da vida. É um luto fudido.

Eu sei que era uma menina. Eu só sei que era. Tive uma filha. Ela não nasceu viva, mas viveu dentro de mim. Sou mãe de dois. Tenho uma estrela no céu que brilha mais forte pra mim. É a primeira vez que falo do meu aborto assim. Em dezembro faz um ano e, agora, passo a me despedir desse luto. Deixei flores pra oxum na cachoeira ontem, pra que leve essa dor. Pra que prevaleça o amor. Gratidão Juliana Paiva por me acompanhar. Gratidão Dra Juliana Costa por toda a acolhida. Vida que segue e coração que transborda em gratidão! Avante! Sigamos!".




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