Porque eu choro quando meu filho viaja...





Eu sempre quis ser mãe. No início, talvez, pela construção social romantizada em torno da maternidade.

Bota essa música linda ai!



Sempre estive com crianças. A gente tem uma boa conexão. Quando adolescente cuidei muito de primos e primas menores. Dei aula de inglês pra maternal na época da graduação. Corro. Danço. Canto. Pulo. Grito. Com elas topo tudo. Até aula de yoga, hehehe.

Criança tem energia de anjo, são puras, leves (quando não estão dando birras). Tá, tudo bem. Também são manipuladoras sagazes, confesso, Rs!

E um dia eu me tornei mãe. Aos 29 anos. Número ímpar, ne? Hehehe

Não sei descrever. A gente sente tanto. Desde a concepção. Nosso corpo. Um novo ser se desenvolvendo dentro dele. É muita luz. Muita magia. Muito medo. Muita alegria. Muito enjoo. Muito cuidado.
Desde que descobri a vida de Miguel em mim passei a conversar. Lia prele dentro da barriga. Ia pro pilates e falava que ele ia se divertir no útero da mamãe. Comia e dizia o que tava comendo. As vezes ficava muito triste com histórias do trabalho e me sentia culpada pelo que ele sentiria. Mas eu me cuidei muito. Sabia da minha criança ferida e, portanto, tinha muita consciência do que precisaria enfrentar comigo mesma pra ser uma mãe melhor. Por isso, ainda grávida, fui para a terapia. Levei minha história. Meus abandonos. Meus medos. E, lembro de uma sessão, uma das últimas antes de parir, que falei pra minha terapeuta que eu me sentia uma leoa, que ai de quem chegasse perto da minha cria. E assim eu fui. Não degrudava dele por nada.

Me preparei muito pro parto. Tive o parto que queria, com exceção da violência hospitalar. Me conectei com meu corpo e com Miguel de um jeito muito forte. Quando ele nasceu, eu chorei e disse: "a gente conseguiu". Sim, a gente. Cada um com a parte que lhe cabe. Meu parto foi uma quebra de vários padrões. Inclusive familiares. Meu nascimento foi punk. Já contei numa carta aqui. Então eu pude renascer e proporcionar ao meu filho um nascer dentro do que eu acreditava ser melhor. Como assistente social que sou, não posso deixar de reconhecer os privilégios que tive. Gastei muita grana pra poder parir assim. Meu sonho é que TODA mulher do SUS possa viver isso, se esse for seu desejo.

Voltando, assim que vi Miguel me emocionei. Mas tem uma parte no video, que vocês podem ver, que demorei pra segura-lo. Tive medo. Talvez a rejeição que vivi. Não sei dizer direito. Mas logo o acolhi. Grudei.

Dali em diante, quanta coisa meu Deus. Noites sem dormir, transladação, muito choro, muito medo, muita solidão e um amor louco. Tudo misturado. Muito confuso. Amamentei exclusivamente até os seis meses. Fiz a introdução alimentar toda bonitinha. Botava o CD do Palavra Cantada toda noite no ritual prele dormir que fazia. Dava os banhos. Trocava as fraldas. Via os sorrisos. Os gestos. As babas. Eu realmente mergulhei no mundo da maternidade. Não foi, não é nem um pouco fácil. Excedi na proteção em alguns momentos, por causa da minha história. Mas fiz o melhor que pude.

Quando Miguel tinha oito meses era tudo mais difícil do que fácil. Já percebia sinais de que algo não andava bem. Não tinha tempo e nem organização mental pra voltar pra terapia. O casamento tava um caos. Assumi minha responsabilidade na parte que me cabia. Fui pra psiquiatra. Passei a tomar sertralina. Diagnóstico? Crise de ansiedade. Não dormia direito. Cuidava do Miguel 24h por dia (até os 09 meses e meio de idade). Entre todas as outras coisas que fazia.

A vida foi indo. Ele crescendo. Cada conquista. O andar. O falar. O correr. O olhar. As mãozinhas. A parte motora se desenvolvendo. Os picos de crescimento. Os picos de desenvolvimento. Os dentes. As viroses. Os corres. Infinito correr....

Resolvi engravidar de novo. Queria ter mais filhos. Queria dar um irmão/irmã à Miguel. Mas eu sabia que ia precisar me encarar de novo. Inclusive a crise do meu casamento. Ainda assim engravidei. E ela não evoluiu. Já contei. Perdi uma filha.
Aí a depressão veio de vez. A cobrança alheia pra ter mais filhos mesmo sabendo que eu estava despedaçada emocionalmente. O julgamento de egoísta por não estar preparada pra gestar novamente. Muita violência, ne?

Miguel completa 3 anos em abril. O aniversário de 2 anos foi comemorado diferente. Eu estava no auge da depressão. Não consegui organizar. Mas meu ex-marido e familiares organizaram. Olha que riqueza o poder da União.

Meses depois me separei. Passei a ter dias longe do meu filho. Quase surtei. Mas fui criando estratégias e fugas. Sair loucamente foi uma delas. E o povo me julgou viu? Julga até hoje. Já tive que ouvir cada coisa.

Então não quero ser hipócrita. Sempre fui uma mulher do mundo. Sempre corri muito e fiz muitas coisas. O modelo de maternagem que escolhi fez eu me recolher do mundo, foi consciente e banquei até onde consegui. E passei do meu limite. Desde que me separei retornei pro mundo. Trabalho, projetos e sonhos pessoais. Dançar. Dormir. Ficar no deboísmo. Viver pra além da maternidade.

Hoje vivo essas duas coisas. Quando estou com meu filho, estou com ele. Quando estou sem meu filho estou comigo. Com amigas. Com a Santa Correria.

E eu choro. Choro muito de saudade. Choro pela minha criança ferida, que por vezes acha que está a abandonar sua cria. Mas ela está com o pai.

Então choro pela ideia da família perfeita que perdi ao me separar. Mas a família continua a existir.

Choro pelo desejo de estar sempre perto do meu filho. Mas o mundo também é seu lugar.

Choro de emoção por ver sua alegria. Seu trilhar. Suas pequenas conquistas... ah! Esse choro é consciente. Esse é o choro de amar.

Muitas fotos pra embalarem essa saudade...













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