As férias e meu reencontro com o mar...



Tenho muitas canções pra essa carta enredar. Se permita fechar os olhos e imaginar seu encontro com o mar. Deixar suas águas te movimentarem... levar o que não deve ficar. Te limpar pro novo vir. Pro belo em ti habitar. Vá, se derrame no mar...


Nossa, forte esse momento. No meio de 2017 eu fui pra Praia de Carneiros. Lugar lindo, paradisíaco. Estávamos minha sogra, meu cunhado, meu irmão, minha cunhada, meu ex-marido, Gurute e eu.

Eu estava no auge da minha crise depressiva. Segurar o choro era um desafio grande. Tinha desmamado Miguel recente. Meu peito ainda jorrava leite. Tenho até hoje.

Mas eu estava em um grupo seguro. Precisava de cuidado. Precisava do contato com a natureza. Precisava de ajuda pra cuidar do meu filho.

Todos os dias lá foram desafiosos. Acordar, levantar, me vestir, cuidar do Gurute, preparar sua mochila, passar protetor solar, brincar no mar... ainda bem que eu tinha muita ajuda. Os dois padrinhos e uma das dindas estavam lá.

Dentro de mim era turbilhão. Parecia que a qualquer hora a panela de pressão ia explodir. Mas por fora, eu estava lá, bancando, aparentando a normalidade e calmaria de sempre.

Primeiro dia me emocionei ao ver o mar. Botei os pés e a medida que as ondas vinham, as lágrimas caíam sem parar. Meu filho a sorrir e se divertir com o pai, e as lágrimas caíam muito mais. Eu fazia um esforço tão grande pra ver o belo, mas meu desejo era ficar no casulo, não sair da cama não. Depressão é uma coisa muito séria e louca.

E assim os dias seguiram. Próximo ao fim da viagem, Miguel tava com sono e não dormia. Todos repousavam e eu lá, na maior agonia. Olhei pro meu ex-marido e disse que ia sair pra andar pois não estava aguentando aquilo lá. Deixei Gurute aos prantos e fui caminhar. Já me sentia péssima mãe por deixar meu filho lá. Mas eu realmente precisava respirar, olhar para o mar. E assim eu fiz. Caminhei até o mar. Adentrei por entre os corais. Sentei de frente pro mar bravo e ali mesmo começei a chorar. Lembro de ter pedido pra ele levar aquela aflição, aquele desejo de morte que estava a me dominar. Enquanto as ondas iam e vinham, eu pensei porque não podiam me levar. Deixa eu ir flutuar. Me leva pra bem longe senhor mar. E enquanto eu estava revolta em devaneios, eis que duas pessoas me abordaram pra ajudar. Disse a elas que estava tudo. Que eu só precisava chorar.


Tempos depois, minha sogra e cunhado apareceram e juntos pela orla fomos caminhar. Me lembro de ficar bem calada, processando em meu silêncio a lição daquele dia, a mudança que precisava habitar. Me recordo, ao falar da depressão com minha sogra, que toquei no assunto de que achava que iria me separar. Pois tinha casado com meu melhor amigo. Ela fitou o meu olhar e disse algo como:" talvez seja esse seu problema. Mas não vamos pensar nisso agora". Minha sogra sempre foi essa mulher especial. Uma verdadeira inspiração pra mim. Sinto muita saudade da convivência com ela e meus cunhados, que pra mim sempre serão irmãos. Mas o tempo cura tudo. Aguardemos, então!

Hoje, final de dezembro de 2017, já em processo de desmame da medicação, volto para ver o mar. É impossível a emoção não rolar. Pulei sete ondas com a Bibia pra Iemanjá. Pra agradecer, agradecer e agradecer. Banho de mar é o mais poderoso banho de sal grosso que há. E eu quero mesmo é me limpar de qualquer resquício que ainda possa existir em mim. Resquício de morte. De sofrer para além. Do medo de me enfrentar. Agora eu tenho me amado ainda mais.




Meu agradecimento à minha família que hoje está aqui comigo. Sei que assustei todo mundo nos últimos tempos. Mas foi por um motivo maior. Não importa quantas tattoos eu tenho, que ideias eu defendo, onde moro, com quem me relaciono... minha essência é a mesma. Aqui dentro nada mudou. Só o fato de hoje eu me amar muito mais. Foi preciso tudo isso. Abro o peito pra calmaria vir...





Ahhhh e aquela baladinha que não pode faltar... curte ae!


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