A UnB, a Farofa Social e o Capital...



Segundo semestre de 2004. Passei no meu segundo vestibular. Serviço Social. UnB. Não passei no PAS. Desisti do concurso da Infraero para poder fazer o vestibular. Geral falou que eu era doida, afinal, deixei um concurso para tentar o vestibular. Fiz a prova aos prantos. Saí da escola pensando: “perdi emprego e faculdade”.

Vida que segue. Nem ia olhar o resultado. Tinha certeza que não tinha passado.

No dia do resultado, tava em casa, apresentando pra família meu novo namorado, o Higote, quando o telefone toca. Era Hernan, do ensino médio. O mestre da cola, lembra? Pois bem... Me contou que eu tinha passado. Meu ex-namorado também. Ganhou minha família de cara. Lá fomos nóis. Universidade pública.

Minha turma. Cara, eu tenho a sorte de cair em lugar massa. Já falei e vocês sabem. Sou uma pessoa de muita sorte. Minha turma era a turma da diversidade. Não é a toa que tenho uma tattoo com esse nome. Tinha a galera playba (minoria). Tinha pessoa com deficiência. Tinha militar do BOPE e Bombeiro. Tinha negros. Tinha brancos. Tinha pardos. Tinha gente de todas as RA’s. Tinha gay. Tinha lésbica. Tinha Bi. Tinha católico, evangélico, de religião de matriz africana. Tinha de tudo.

Primeiro semestre a galera já pirando nas atividades. Viajamos pra Salvador. Vimos a exploração sexual de crianças e adolescentes acontecendo na nossa frente. Galera fez parte do NEAMCES e fazíamos oficinas de prevenção à DST/HIV/AIDS e sexo seguro pela UnB, pelas escolas públicas.

Por do sol era point de encontro. Cochilávamos no horário de almoço amontoados uns nos outros no chão do Ceubinho. Nosso CA era pequeno nessa época. Fábio Félix já dava sinal da imersão na política. Ocupamos a reitoria. Fomos a muitas manifestações. Nos juntamos à marcha histórica do MST na esplanada. Tínhamos presença certa nas ações do Movimento do Passe Livre – MPL. A gente vivia intensamente a vida. Academicamente. Boemiamente (acabei de inventar esse termo). Perificamente (inventei esse tb).

Viajamos para BH, pro Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social – ENESSO. A gente foi pro Fórum Mundial de Educação no RJ. Ficamos em escola pública da Baixada Fluminense. Sem porta, sem janela. Comunidade cuidando da gente. Baile funk bombante. Cara, a gente curtiu demais. E eu nem estava em todas pela falta de grana. Mas as que estive, foram sensacionais.

Impossível não mencionar o quarteto fantástico. Eu era a aviãozinha da Boca. Caroleide a Dona da Boca. Cinthia a Rainha. Higote, acho que aviãozinho também. Teve Dino Black. Teve o Rap. Teve Racionais. Teve Opala 71 Azul. Teve Vera Veronika. Teve Facção Central. Teve tanta coisa boa.

Veio Karl Marx. Engels. Durkheim. Lukács. Teve o estudo da estrutura. O jogo perverso do estado. O ideal do estado de direito. O serviço social nesse bolo todo. A luta de classes. O proletariado. A burguesia. A exploração da força de trabalho. O lucro como fim. O capital. A questão social. E o serviço social. Teve a gente vivendo nossas próprias revoluções. Se descobrindo, redescobrindo, construindo, desconstruindo.

Teve o “Churrasco social, quem tá na brava é o capital”. A eterna FAROFA SOCIAL. O baldão social. Teve a música na colação de grau: “Serviço Social, assistencialismo pega mal, o cidadão é o principal, por ele nossa luta é real”. Que turma. Que galera.

Teve a Seleção Social. A mulherada jogando no JIUNBS (nem sei se é assim que escreve). A gente vendendo Din din para fazer as camisetas. Natinho do Verdurão nos apoiando. Sendo detido em manifestação do MPL com a gente. Comédia. Ou  não.

Teve grupo de educação. VIOLES. Pesquisa ação. Socioeducação. Com-vivência. E o saudoso grupo de conjuntura. Tivemos presença do Jucá. Teve zuação porque eu lia Harry Potter e o professor Newton me dando o último livro que tinha saído, porque ele curtia e a gente viajava na metáfora da revolução marxista com Harry Potter. Era massa.

E vamos aos apelidos. Eu sou a Luaneide ou Luana Piu-Piu. Caroleide. Zé. Manga Rosa. Vander. Cabecinha. Socadinho de Milho. Maranhão. Polly. Fafá farinha. Vivi. Bebela.  Carlota. E um monte que não me recordo agora. Ângelo. Raquel. Samara. Marcela. Rozânia. Cinthia. Andréia. Joel. Carina. Douglas. E provavelmente eu vou esquecer alguém.

A UnB mudou a minha vida. Muita história. Grande amor. Revolução. Medo. Luto. Renascimento. Identidade. Descoberta. Mundo novo. Filosofia. Sociologia. Antropologia. Psicologia. Educação. Pedagogia. Medicina. Tai chi chuan. Canto e Coral. Letras. Ciência Política. Direito. Estatística. Economia. Fiz matéria em tudo que foi área. Menos nas exatas cabulosas, pra que né?

Trilha sonora. Racionais. Homem na estrada. Essa batida. Memórias. Histórias. Vida. Gratidão Farofa Social. Muitos trabalhamos juntos. Estamos sempre nos cruzando por aí. Bora se reunir. Bora fazer uma nova versão do Churrasco Social.















E pra fechar, "É Nóis (It's we) do Cucão Filmes. Se liga Tio Luís. S2




Comentários

Postagens mais visitadas