De onde viemos? Qual a nossa história?

Enquanto pensava sobre qual o primeiro texto deveria publicar no blog, refleti que poderia partir do inicio. Do meu início, onde tudo começou. E o início é antes de mim, perpassa meus ancestrais. Nasci no seio de uma família tradicional, católica, do interior de Minas Gerais. Minha mãe foi mãe solteira. Viveu um grande amor com meu pai, mas ele não segurou a onda. Minha mãe contava que ele foi abandonado pela mãe dele. Sou a unica filha. Talvez tenha algo ai. Enfim. Só sei que ele engravidou duas na mesma época. E minha mãe foi o que não teve o apoio. Me conta que meu nascimento foi bem traumático, pois a esqueceram em um corredor e quando a encontraram ela já não sentia nada. Nasci de cesárea, fui a primeira a fazer o teste do pezinho no HuB, pois suspeitavam que podia ter faltado oxigenação no meu cérebro. Nasci muito roxa e bem deformada. Minha mãe conta que se assustou quando me viu. Portanto, gosto de dizer que minha mãe e eu fomos guerreiras desde sempre. Resisti pra nascer. E aí começa uma longa história que já somam 31 anos de idade. 

Por hoje, gostaria de compartilhar que fui muito nutrida pela minha avó, meu avô (que faleceu quase dois anos após meu nascimento), minha tia Irene, tio Geraldo, tia Marly. Tia Darcy e tio Waldomiro foram muito importantes. Levaram e buscaram minha mãe no hospital. Minha avó foi muitoooo sinixtra, cuidou da minha mãe e de mim. Mamei bastante. Fui o xodó do meu avô em seus últimos anos de vida
Minha avó contava que dei muitos sorrisos a ele numa fase difícil. Ele morreu com câncer de intestino. Naquela época não haviam muitos recursos para tratamento. A vó contava, ainda, que ele, antes de partir, pediu que ela cuidasse de mim e não deixasse ninguém me maltratar. Acredito que isso era porque eu não tinha pai presente. 


E minha vó cumpriu bem a promessa que fez a ele. Dormimos juntas na mesma cama até quando eu tinha 12 anos de idade. À medida que ela envelhecia, eu acordava de madrugada para verificar a respiração dela. Sempre tive medo que ela morresse dormindo ao meu lado. Minha vó sempre me deu muito amor. Colo, cafuné, café na cama na bandeja de princesa, sopa de batata, queijo assado, mingau de fubá com couve. Compartilhamento de roupas, dinheiro pra comprar bala de ovinho. Histórias partilhadas. Sorrisos contagiantes ao assitir Os Trapalhões e Chaves. Visitas aos doentes. Estudo bíblico. Coroinha. Coral Raio de Luz. Legião de Maria. Inúmeras vivências relacionadas à espiritualidade na Igreja Católica e fora dela. Minha avó era benzedeira. Vem daí a energia de cura, de cuidado com o outro. Vem daí o doar-se genuinamente. Nos anos finais de sua jornada por aqui, ela via todo mundo que já tinha partido. Ela temia a morte e eu acredito que estava sendo preparada. 

No dia que saí às pressas do estágio pra me despedir dela, que já estava em coma induzido e, portanto entubada, falei em seu ouvido:"Vó eu te amo muito. Obrigada por ter cuidado de mim. Você cumpriu sua promessa. Descansa em paz". Lágrimas caíram de seus olhos. Mas, ainda assim, fiquei na dúvida se ela havia me ouvido. Dias após sua morte terrena, sonhei com ela, cena da infância na cozinha de azuleijos azuis. Ela fitava meus olhos e dizia: "eu sei que você me ama". Desde então, tive a certeza que ela havia me escutado na UTI. Segui em paz. Segui grata por ter tido o privilégio de ser cuidada por uma mulher simples, pouco letrada, de uma sabedoria gigante. Mãe de 14, luto de 07 filhos. Dei banho, escovei a dentadura, passei hidratante, troquei fralda. Fiz o leite com café do jeito que gostava. Brinquei e briguei também. Que sorte eu tive em poder cuidar um pouquinho de quem cuidou tanto de mim. E como cuidou. Seu amor me sustentou e sustenta até hoje. Me ensinou que se um dia meu pai precisasse de mim, eu deveria ajudá-lo. Esteve comigo no dia que o conheci. Enxugou minhas lágrimas e me acolheu quando ele não mais voltou. Disse que amor nunca me faltaria. E estava certa. Sou uma pessoa de muita sorte.
Minha história não termina aqui. Hoje quis falar um pouquinho da minha avó materna. Ela era terrivel, hehehe. Ela foi meu primeiro contato profundo e genuíno com o amor que não vem de pai e mãe. Mas muitas são as pessoas que fizeram e fazem parte desse amor que vivencio. Aos poucos vou falar de cada uma aqui.

E você? Qual a sua história? De onde você veio? Quem são seus ancestrais?



Comentários

  1. Lindo texto Lu. O poucl que lembro da sua vó era sempre com uma imagem de muito amor e coragem. Parabéns pelo texto.

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  2. Me emocionei muito ao ler o seu texto. Como é bom ter lembranças da nossa infância. Revivi momentos únicos da minha infância também. Saudades do vô Titino e da vó Paulina.

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